domingo, 23 de fevereiro de 2014

PSICANALISTAS CONTEMPORÂNEOS

ANDRÉ GREEN




André Green, nascido no Egito em 1927, formou-se médico psiquiatra e psicanalista na França, nas décadas de 50 e 60. Conheceu de perto a grande revolução que Jacques Lacan (1901-1981) promoveu na psicanálise francesa e mundial, tendo acompanhado por sete anos seu Seminário. Foi, contudo, e desde sempre, um leitor independente de Sigmund Freud, ainda que marcado pela leitura lacaniana. Sem renegar as marcas de Lacan, viu-se obrigado a transpor o canal da Mancha para, nos anos depois de ingressar na cena psicanalítica, buscar na psicanálise inglesa – Melanie Klein (1882-1960), Donald W. Winnicott (1896-1971) e Wilfred R. Bion (1897-1979) – os subsídios para sua atividade clínica e para suas ideias sobre o afeto, a vida emocional primitiva e os processos primários de constituição do psiquismo.

Relacionados abaixo alguns dos principais títulos em português:
  • As cadeias de Eros. Climepsi, 2000.
  •  Narcisismo de vida. Narcisismo de morte. Escuta, 1988.
  •  O desligamento.  Imago, 1994.
  •  O discurso vivo. Uma teoria psicanalítica do afeto. Francisco Alves, 1982.
  •  Orientações para uma psicanálise contemporânea. Imago, 2008.
  •   Psicanálise contemporânea. Imago, 2006.
  •   Revelações do inacabado. Imago, 1944.


CHRISTOPHER BOLLAS




Nascido nos Estados Unidos, Bollas passou a infância e a adolescência no litoral da Califórnia, quando foi surfista. Nos anos 60, graduou-se em história (Berkeley/Califórnia) e doutorou-se em literatura inglesa (Buffalo/Nova York). Nessa época, interessou-se pela psicanálise. Nos anos 70, impedido de fazer formação como psicanalista nos estados Unidos por não ser médico e nem psicólogo (embora já trabalhasse clinicamente com crianças), partiu para Londres com o propósito de realizá-la na Sociedade Britânica de Psicanálise.

Relacionados abaixo alguns dos principais títulos em português:

  • A sombra do objeto. Imago, 1987.
  • Forças do destino. Imago, 1992.
  • Hysteria. Escuta, 2000.
  • Endo um personagem. Revinter, 1998.


CHARLES MELMAN




Charles Melman é um dos principais e mais próximos discípulos de Jacques Lacan. Psiquiatra e psicanalista francês nascido em 1931, é um importante expoente do pensamento psicanalítico contemporâneo. Estudioso da filosofia, da linguística, da psiquiatria e das artes, o discreto, porém contundente, Melman é um ativista do movimento psicanalítico, fiel à tradição freudo-lacaniana. Possui rigoroso trabalho teórico-prático dedicado às patologias clínicas em suas formas estruturais. Destaca-se por sua participação no movimento institucional psicanalítico mundial, acompanhando de perto boa parte dos passos de Lacan nessa odisseia.

Relacionados abaixo alguns dos principais títulos em português:

  • A prática psicanalítica hoje. Tempo Freudiano, 2008.
  • Clínica psicanalítica – Artigos, conferências. Ágalma, 2007.
  • Como alguém se torna paranoico. CMC Editora, 2008.
  • Imigrações e fundações. Com. A. M. Medeiros da Costa. Artes e Ofícios, 2000.
  • Neurose obsessiva. Companhia de Freud, 2007.
  • O homem sem gravidade. Companhia de Freud, 2008.
  • Para introduzir a psicanálise nos dias de hoje. CMC Editora, 2009.


DONALD MELTZER       





Donald Meltzer (1922-2004) foi um psicanalista Kleinian cujo ensinamento fez influente em muitos países. Ele se tornou conhecido por fazer progressos na clínica com condições da infância difíceis, como o autismo, e também por suas inovações e desenvolvimentos teóricos. Seu foco sobre o papel da emocionalidade e estética na promoção da saúde mental o levou a ser considerado uma figura chave no movimento "pós-kleiniana" associado à teoria psicanalítica do pensamento criado por Wilfred Bion. 

Relacionados abaixo alguns dos principais títulos em português:

  • Desenvolvimento kleiniano 1. Escuta, 2000.
  • Desenvolvimento kleiniano 2. Escuta, 1990.
  • Desenvolvimento kleiniano 3. Escuta, 1998.


FABIO HERRMENN





Fabio Antonio Herrmann (1944-2006), doutor em medicina e psicanalista brasileiro.
O psicanalista (e também supervisor, orientador e professor universitário) dedicou-se à psicanálise por mais de 40 anos, publicando certa de dez livros e uma centena de artigos. Formou-se na faculdade de medicina da USP e, em 1976, ingressou como membro na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Sua intensa vida política foi sustentada pelo projeto de recuperar a psicanálise como instrumento afinado para penetrar o cotidiano. A partir dos anos 80, ocupou a presidência da SBPSP, da Federação Psicanalítica da América Latina (Fepal) e diversos postos internacionais. Em 1999, fundou o Centro de Estudos da Teoria dos Campos (Cetec).

Relacionados abaixo alguns dos principais títulos em português:

  • A infância de Adão. Casa do Psicólogo, 2002.
  • Andaimes do real: método da psicanálise. Casa do Psicólogo, 2001.
  • Andaimes do real: psicanálise da crença. Casa do Psicólogo, 2007.
  • Andaimes do real: psicanálise do cotidiano. Casa do Psicólogo, 2001.
  • Clínica psicanalítica: a arte da interpretação. Casa do Psicólogo, 2003.
  • Pesquisando com o método psicanalítico. Casa do Psicólogo, 2004.


JEAN-BERTRAND PONTALIS





Jean-Bertrand Lefebvre Pontalis (Paris, 1924-Paris, 15 de Janeiro de 2013), foi um notável psicanalista, filósofo e escritor francês.
O psicanalista soube tomar distância de seus mestres Sartre e Lacan e inovou ao refletir sobre o uso e a natureza da linguagem psicanalítica. Para ele o poder das palavras na análise vem das vacilações da fala.

Relacionados abaixo alguns dos principais títulos em português:

  • A força de atração. Jorge Zahar, 1990.
  • O amor dos começos. Globo, 1988.
  • Perder de vista: da fantasia de recuperação do objeto perdido. Jorge Zahar, 1991.
  • Vocabulário da psicanálise. Com J. Laplanche. Martins Editora, 2001.



JEAN LAPLANCHE





Jean Laplanche (21 de junho de 1924 - 6 de maio de 2012) foi um psicanalista francês.
O francês Jean Laplanche é psicanalista cuja pesquisa se inclui entre as mais capazes de nos propor uma ideia substanciosa e clara do projeto freudiano, seu alvo, sua originalidade e alguns dos seus impasses mais instigantes. A respeito do alvo e originalidade freudianos diga-se ao menos o seguinte: Laplanche assevera reiteradamente qual seja o fenômeno alvo das pesquisas de Freud, a sexualidade humana, desde que estejamos alertados para a alteração que o fenômeno conheceu em extensão e em determinação.  

Relacionados abaixo alguns dos principais títulos em português:

  • A angústia. WMF Martins Fontes, 1998.
  • A sublimação. WMF Martins Fontes, 1989.
  • Fantasia originária, fantasia das origens, origens da fantasia. Jorge Zahar, 1988.
  • Novos fundamentos para a psicanálise. Martins Fontes, 1992.
  • O inconsciente e o id. WMF Martins Fontes, 1992.
  • Problemáticas. Martins Fontes, 1987.
  • Teoria da sedução generalizada e outros ensaios. Artes Médicas, 1988.
  • Vida e morte em psicanálise. Artes Médicas, 1985.


JOYCE McDOUGALL





Joyce McDougall (26 de abril de 1920, Dunedin, Nova Zelândia - 24 de agosto de 2011, em Londres, Reino Unido). Era uma psicanalista Nova Zelândia-francês. Reconhecida por seus trabalhos voltados para os casos difíceis, como normopatias, somatizações, comportamentos sexuais desviantes e adictos, a psicanalista tem mantido uma posição pluralista e não dogmática dentro do movimento psicanalítico, uma tendência em expansão nos últimos anos.

Relacionados abaixo alguns dos principais títulos em português:

  • As múltiplas faces de Eros: exploração psicoanalítica da sexualidade humana. WMF Martins Fontes, 2001.
  • Diálogo com Sammy. Com S. Lebovici. Martins eEditora, 2001.
  • Teatros do corpo. WMF Martins Fontes, 1999.


JUAN-DAVID NASIO





Juan-David Nasio, médico psiquiatra e psicanalista argentino, radicado na França desde 1969, sustenta que a clareza das palavras, a escuta analítica e o rigor conceitual despertam no ouvinte, ou no leitor, o desejo de aproximar-se do enigma do inconsciente. Vanguardista, jovem de esquerda, aos 16 anos ingressou na graduação e interessou-se pela medicina social e política, identificando na psiquiatria a possibilidade de atuar nessas áreas – e o importante confronto com a loucura e o contato com o paciente psicótico. Clínico de crianças, jovens e adultos, pesquisador, autor de inúmeros artigos e de 18 livros publicados e traduzidos em 13 línguas, foi professor de psicopatologia da Sorbonne por 30 anos e hoje dirige os Seminários Psicanalíticos de Paris, instituição que fundou em 1986, destinada à transmissão da psicanálise á formação de psicanalistas.  

Relacionados abaixo alguns dos principais títulos em português:

  • A criança do espelho. Com F. Dolto. Artes Médicas, 1987.
  • A fantasia. Jorge Zahar, 2007.
  • Cinco lições sobre a teoria de Jacques Lacan. Jorge Zahar, 1992.
  • Lições sobre os sete conceitos cruciais da psicanálise. Jorge Zahar, 1988.
  • Meu corpo e suas imagens. Com André Telles. Jorge Zahar, 2009.
  • Os grandes casos de psicose. Com Vera Ribeiro. Jorge Zahar, 2001.
  • Os olhos de Laura: conceito do objeto “a” na teoria de Jacques Lacan. Artes Médicas, 1987.


MAUD MANNONI & OCTAVE MANNONI

Octave a Maud Mannoni formaram uma das duplas mais engajadas da psicanálise lacaniana. Octave (1899-1989), de família originária da Córsega, estudou filosofia e passou 20 anos como professor e adido cultural na distante ilha de Madagascar. Maud (1923-1998) era de família belga, passou a infância entre Sri Lanka e Amsterdã, antes de estudar criminologia. Casaram-se em 1948 sob os auspícios de Lacan, de quem ele era analisante e ela, supervisionanda.

MAUD





Psicanalista influenciada pelas ideias de Lacan, Françoise Dolto e Winnicott, consagrou-se pelo seu trabalho com crianças e adolescentes autistas e psicóticos.

Relacionados abaixo alguns dos principais títulos em português:

  • A criança, sua doença e os outros. Via Lettera, 1999.
  • A primeira entrevista em psicanálise. Campus, 2004.
  • Criança retardada e a mãe. WMF Martins Fontes, 1999.
  •  Elas não sabem o que dizem – Virginia Woolf, as mulheres e a psicanálise. Jorge Zahar, 1999.


OCTAVE





Psicanalista estudou filosofia e por duas décadas foi professor e adido cultural em Madagascar.

Relacionados abaixo alguns dos principais títulos em português:

  • Freud: introdução à psicanálise. Europa-América, 1968.
  • Freud: uma biografia ilustrada. Jorge Zahar, 1993.
  • Isso não impede de existir. Papirus, 1991.


PIERA AULAGNIER





Piera Aulagnier nasceu em 1923, em Milão, formou-se em medicina em Roma, especializando-se em neuropsiquiatria, e em 1950 foi a Paris para aprofundar seus estudos. Psicanalista italiana, uma das fundadoras do Quarto Grupo, introduziu a dimensão sensorial na relação analítica e restabeleceu a importância do ego na psicanálise; por meio de conceitos originais trouxe grandes contribuições para a compreensão da potencialidade psicótica e da família psicotizante. Aulagnier filiou-se a diversos grupos, afastando-se de Lacan, de quem divergiu sobre a formação psicanalista.

Relacionados abaixo alguns dos principais títulos em português:

  • O aprendiz de historiador e o mestre feiticeiro. Escuta, 1989.
  • Um intérprete em busca de sentido 1 e 2. Escuta, 1990.


PIERRE FÉDIDA




Pierre Fédida (1934-2002) foi um dos mais importantes psicanalistas de nossa época, internacionalmente reconhecido. Pode-se dizer que foi um pensador sobre o vivido na clínica, tendo em Freud seu mais constante interlocutor e vários outros autores, como o psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981). Ainda que não fosse lacaniano, conheceu profundamente a obra de Lacan e com ele manteve bom relacionamento. Ingressou, nos anos 50, na Associação Psicanalítica da França (APF), tendo sido seu presidente em 1988. Na Universidade Paris 7 – Denis Diderot, ele formou muitos psicólogos, como ele preocupados com a situação clínica e com a psicopatologia. Fundou o Laboratório de Psicopatologia Fundamental, na Universidade Paris 7, que funciona desde 1979.

Relacionados abaixo alguns dos principais títulos em português:

  • Comunicação e representação. Escuta, 1989.
  • Depressão. Escuta, 1999.
  • Dos benefícios da depressão. Escuta, 2002.
  • Nome, figura e memória. Escuta, 1992.
  • O sítio do estrangeiro. Escuta, 1996.


THOMAS OGDEN





Psicanalista americano, que transita entre a literatura e a psicanálise, parte de Melanie Klein e da dialética hegeliana para formular uma teoria sobre a subjetividade, cuja base é a simultaneidade das dimensões experienciais.

Relacionados abaixo alguns dos principais títulos em português:
  • Os sujeitos da psicanálise. Casa do Psicólogo, 1996.
  • Sobre o conceito de uma posição autista-contígua. Em Arquivos de Psiquiatria, Psicoterapia e Psicanálise, nº 2, 1995.


Fonte: Memória da psicanálise 8 – Psicanalistas Contemporâneos, Nova Geração. 2ª Edição da Revista Mente e Cérebro.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A LENDA DE NARCISO


Narciso era um belo rapaz indiferente ao amor, filho do deus do rio Céfiso e da ninfa Liríope. Dessa união indesejável nasceu Narciso. Ao nascer a criança, porém, a mãe rejubilou-se, pois era um menino dotado de imensa formosura que certamente seria amado por mortais e imortais. Liríope consultou então o cego adivinho Tirésias para saber o futuro da criança. O sábio respondeu que viveria muitos anos se ele não se conhecesse. O rapaz foi alvo de inúmeras paixões, mas permanecia insensível ao amor.


Eco, ninfa das montanhas, que tinha sido privada da fala por Hera e condenada a repetir as últimas sílabas das palavras, apaixonou-se pelo rapaz, mas como não podia declarar-lhe seu amor se limitava a segui-lo. Como Narciso a desprezasse, a ninfa, cheia de tristeza, começou a definhar até que um dia morreu. Nêmesis, deusa da justiça, foi chamada pelas demais ninfas, que revoltadas clamavam por punição para a frieza do rapaz. A deusa apiedou-se delas e condenou Narciso a viver um amor impossível. Nêmesis o induziu, depois de uma caçada num dia muito quente, a debruçar-se numa fonte para beber água. Nessa posição viu seu rosto refletido na água. Seduzido por sua própria beleza, apaixonou-se por si próprio, permaneceu ali até morrer. Quando foram em busca do rapaz encontraram tão somente uma singela flor à beira da fonte: um narciso. 

Fonte: Almanaque de Mitologia 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A LENDA DE ÉDIPO


Édipo, filho de Laio e de Jocasta, foi abandonado ao nascer no Monte Citerão, pois um oráculo anterior ao seu nascimento anunciara que o filho de Jocasta mataria seu pai. O recém-nascido foi entregue a um servo de Laio para abandoná-lo, porém o servo confiou essa triste missão a pastores do Citéron. Em vez de abandoná-lo, os pastores o levaram a Pólibo, rei de Corinto, que o adotou. Quando descobriu que era filho adotivo, Édipo foi até o oráculo de Delfos para saber o seu destino.  O oráculo disse que o seu destino era matar o pai e se casar com a mãe. Espantado, ele deixou Corinto e foi em direção a Tebas para evitar a profecia. No meio do caminho, encontrou com Laio que pediu para que ele abrisse caminho para passar. Édipo não atendeu ao pedido do rei e lutou com ele até matá-lo.


Sem saber que havia matado o próprio pai, Édipo prosseguiu sua viagem para Tebas. Quando lá chegou, encontrou a cidade alarmada. Um monstro chamado Esfinge, com cabeça de mulher e o corpo de leoa, propunha enigmas aos tebanos e os devorava porque eles não respondiam corretamente. Creonte, rei de Tebas, prometeu o trono da cidade como recompensa a quem os decifrasse. Édipo ofereceu-se e foi ao encontro da Esfinge. O enigma proposto pela esfinge era o seguinte: Qual é o animal que de manhã tem quatro pés, dois ao meio-dia e três à tarde? Édipo disse que era o homem, pois na manhã da vida (infância) engatinhava com pés e mãos, ao meio-dia (idade adulta) anda sobre dois pés e à tarde (velhice) precisa das duas pernas e de uma bengala. O monstro, transtornado, precipitou-se do alto da cidadela e morreu. Morto o monstro, Creonte entregou o trono a Édipo e lhe deu em casamento Jocasta, sua irmã e viúva de Laio, e, embora ninguém soubesse ainda, mãe de Édipo, realizando a profecia. Depois disso, uma violenta peste atingiu a cidade e Édipo foi consultar o oráculo, que respondeu que a peste não teria fim enquanto o assassino de Laio não fosse castigado. Ao longo das investigações, a verdade foi esclarecida e Édipo cegou-se e Jocasta matou-se.

Fonte: Almanaque de Mitologia

sábado, 15 de fevereiro de 2014

DESAMPARO COMO ESTRUTURANTE DO PSIQUISMO


Pode-se agora reportar ao outro lado do desamparo, como estruturante do psiquismo, e levar outra importante questão da relação com o objeto.
Partindo do pressuposto teórico de Rocha (2012), “no inicio da vida não haveria objetos internos e nem externos, apenas objetos subjetivos” (p. 42), portanto, a mãe é o próprio ambiente do bebê e esse a sente como objeto subjetivo. Tomando-se por base essa tratativa, o bebê tem por sua existência, a existência da mãe ou como o foi amparado, prossegue assim o processo de construção de si mesmo tendo como base este objeto externo, mãe. (ROCHA, 2012). “Fala-se aqui da possibilidade da construção de um self que estará para sempre ancorado na lembrança dos primeiros cuidados maternos”. (ROCHA, p. 42).
Para Winnicott (1956/2000) esses cuidados maternos expressam-se com bastante dificuldade, já que não provém de um processo natural, uma vez que, a mãe se depara a um estado que este a chamou de “Preocupação Materna Primária 1”.
Com relação ao desenvolvimento do bebê, Winnicott (1956/2000) salienta:

A mãe que desenvolve esse estado ao qual chamei de ‘preocupação materna primária’ fornece um contexto para que a constituição da criança comece a se manifestar, para que as tendências ao desenvolvimento comecem a desdobrar-se, e para que o bebê comece a experimentar movimentos espontâneos e se torne dono das sensações correspondentes a essa etapa inicial da vida. (p. 403).

É por meio dessa possível sensibilidade e operatividade da mãe que o bebê irá reagir e, é diante dessa relação que se inscreverão as representações desse infante, “sobretudo, um movimento de comunicação primitiva entre a mãe e seu filho”. (ROCHA,2012, p. 37).
Voltando a Freud (1926[1925]) em uma das suas tentativas de expor a origem da ansiedade, faz uma relação ao nascimento e retrata a inexistência de conteúdo psíquico na criança recém-nascida e, impõe que grandes somas de excitação se acumulam, promovendo o desprazer, no entanto, alguns órgãos adquirem maior investimento, o que prediz ao investimento objetal que logo se concretizará.
Esse mundo de excitação sensorial, pulsional e interno do bebê refletido no mundo interno da mãe, prossegue a comunicação primitiva entre os dois que brotarão as mais ricas experiências para o bebê, que, segundo Rocha (2012) desembocará na identificação, marcado pelo lugar essencial que a mãe ocupará nesse espaço original e servirá de abertura para a experiência narcísica.
No texto Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905), Freud diz que, “durante todo o período de latência a criança aprende a amar outras pessoas que a ajudam em seu desamparo e satisfazem suas necessidades, e o faz segundo o modelo de sua relação de lactante com a ama e dando continuidade a ele”. (p. 210, grifos meus). E, em Sobre o Narcisismo: Uma Introdução (1914), Freud retrata que “os primeiros objetos sexuais de uma criança são as pessoas que se preocupam com sua alimentação, cuidados e proteção”. (p. 94, grifos meus).
Deparando-se com a prematuração humana e a separação da mãe diante do nascimento, o bebê age alucinatoriamente em busca de satisfazer suas necessidades baseado nas marcas do psiquismo, decorrentes as experiências de satisfação anteriores promovidas pelo objeto externo. (ROCHA, 2012). No escrito Formulações Sobre os Dois Princípios do Funcionamento Mental (1911), Freud formula que, quando o bebê abandona a atividade alucinatória se institui o principio de realidade, porém, permanecendo submisso ao principio do prazer, uma vez que, o último domina todos os processos psíquicos, o que pendura na vida adulta a recompensa por tudo que se faz.
O objetivo aqui não é aprofundar na teoria dos dois princípios do funcionamento mental, mas sim, trazer a importância da relação com o objeto externo, e sua relevância para o desenvolvimento humano por um prisma do desamparo e da dependência deste.

O progresso que a criança alcança em seu desenvolvimento – sua crescente independência, a divisão mais acentuada do seu aparelho mental em várias instâncias, o advento de novas necessidades – não pode deixar de exercer influência sobre o conteúdo da situação de perigo. (FREUD, 1926[1925], p. 138).

Este perigo se dá pela perda da mãe como objeto e a sua relação com a castração, a nível que, há uma identificação com esse objeto para configurar o plano do superego e “a ansiedade de castração se desenvolve em ansiedade moral”. (FREUD, 1926[1925], p. 138). Em o Projeto Para Uma Psicologia Científica (1950[1985]), Freud já havia enunciado essa questão quando se tratava da Ação Especifica.

Ela se efetua por ajuda alheia, quando a atenção de uma pessoa experiente é voltada para um estado infantil por descarga através da via de alteração interna. Essa via de descarga adquire, assim, a importantíssima função secundária da comunicação, e o desamparo inicial dos seres humanos é a fonte primordial de todos os motivos morais. (p. 370).

Na medida em que o ego vai se desenvolvendo, as situações de perigo mais primitivas tendem a decair, à proporção que, cada período da vida do ser humano tende a haver sua ansiedade especifica, portanto, “o perigo de desamparo psíquico é apropriado ao perigo de vida quando o ego do indivíduo é imaturo”. (FREUD, 1926[1925], p. 140).




1 Estado em que a mãe se depara a uma sensibilidade exacerbada durante e principalmente ao final da gravidez com duração de algumas semanas após o nascimento do bebê. Essa condição poderia ser uma doença caso não existisse uma gravidez, uma vez que, é comparada a um estado de retraimento e dissociação, ou um distúrbio num nível mais profundo. Dificilmente há recordação depois que passa esse estado, e essa tende a ser reprimida.

O NASCIMENTO E O PRIMEIRO CONTATO COM O OBJETO

Desamparo

O nascimento do bebê é um momento crucial para o desamparo originário. É neste momento que o indivíduo, no caso o bebê, sofre as mais cruéis perdas e intrusões do mundo externo. Não preparado para essas intrusões, o bebê perde sua identidade, onde, é totalmente dependente do mundo externo. Essas condições são armazenadas na memória do indivíduo, se não elaboradas, esse passa a reviver a experiência mais tarde, Winnicott salienta esta afirmação.
Segundo este autor:

O ‘continuar a ser’ pessoal do indivíduo é interrompido por reações a intrusões prolongadas. Quando o trauma do nascimento é significativo, cada um dos aspectos da intrusão e da reação é, digamos, entalhado na memória do indivíduo da mesma forma como nos acostumamos a ver quando os pacientes revivem experiências traumáticas de uma época mais tardia (o tipo de experiências que por vezes são recuperadas com sucesso por uma ab-reação ou uma hipnose). [...] Quando estudamos um paciente em análise, porém, encontramos uma ordem de detalhes que nunca deixa de nos impressionar. (1949/2000, p. 265).


Todavia, Winnicott (1949/2000) postula que, dos aspectos principais, ou mais típicos da verdadeira memória do nascimento, é o sentimento de ser agarrado por algo do ambiente. Agarrado em uma maneira simbólica, ou seja, o mundo do bebê é invadido por intrusões exteriores que o mesmo tende a adaptar-se, e em conjunto, na época do nascimento, este bebê necessita de uma adaptação ativa do ambiente. Ainda em Winnicott (1949/2000), salienta que o bebê é capaz de suportar essa tensão, essas intrusões vindas do externo, até certo ponto, um período limitado do tempo. O fato é que ele não sabe, e nem tem como saber, a duração do parto, portanto Winnicott diz:

Faz parte desse sentimento de desesperança a intolerável experiência de sofrer o efeito de algo sem ter a mínima ideia de quando isto irá terminar. [...] Seria possível dizer que muitos bebês poderiam ser ajustados caso conseguíssemos informa-lhes, durante um parto prolongado, que o processo durará apenas um período de tempo limitado. O bebê, porém, não tem como compreender a nossa linguagem. (p. 265-266).

É um sofrimento atroz. Além das intrusões do mundo exterior, o bebê se depara com a perda do seu mundo perfeito, onde nada lhe faltava. Evidencia-se a dificuldade em lidar com essa situação justamente porque o ego ainda não esta formado. Para isso a mãe é um objeto externo essencial para acolher este bebê. É o objeto primário, é naquele momento, o que o bebê mais precisa.
Apesar de este pequeno sujeito precisar muito do objeto externo (mãe), este (objeto externo) exerce uma fonte de violência, pois, provoca o sentimento de perda e abandono (ROCHA, 2012).

É com a insuspeitada agonia do choro que o bebê revela as consequências da separação, pelo corte, de seu objeto primário. Temos aí a expressão máxima de sua aflição diante da perfeição perdida que o fazia conhecer somente a plenitude, a bem-aventurança e o repouso. A perda de um modelo, que proporcionava a satisfação ilimitada, o repouso absoluto e a quietude plena – ainda que nós o pensemos como um mito constitutivo da psique – configura-se pela separação do corpo materno. A unidade, deixada agora para trás, dá lugar à ferida provocada por esse corte inicial cuja cicatriz marcará, primeiramente e para sempre, o corpo do sujeito. (ROCHA, 2012, p. 23).

Tirar o bebê de sua perfeição, do mundo que nada lhe faltava, de sua plenitude, é um tanto sofredor, o que acarretará em todo o processo de desenvolvimento ao longo dessa vida. É o primeiro contato com o mundo externo, onde haverá toda a mudança, a invasão do mundo pulsional e também a violência sensorial.
Rocha explica a afirmação descrita acima:

Ao lado dessa primeira ferida, vive-se – a partir do excesso – a primeira violência que se constitui pela invasão pulsional, sensorial e objetal que inunda o bebê nos primórdios da vida. É, portanto, a partir desse trauma primário, cenário para o desespero incontornável do sujeito, que podemos localizar o espaço em que se dá esse excesso e compreender que, se a experiência é sentida como demasiada, é justamente porque a condição de despreparo e insuficiência própria para dar conta de tudo isso é a vivência maior desse momento. O atravessamento pulsional que marca o corpo e funda o psíquico é, ainda, contemporâneo da violência sensorial que inunda o pequeno sujeito por todos os lados. Além disso, o objeto como projeto para o bebê, ou seja, como mensageiro da cultura e como ser de desejo em relação ao bebê, exerce, assim, uma fonte de violência, além de atualizar, com sua presença, perda e abandono para ele.  (2012, p. 23-24).

Para Winnicott (1949/2000) a reação à invasão dessas intrusões passa a ser entalhada na memória em forma de trauma, ao passo que o adulto o reviva simbolicamente mais tarde, entretanto, esse autor apresenta a ab-reação, entre outros, como alternativa para a possível recuperação deste estado traumático.
Neste mesmo ano Lacan (1949/1998), em seu escrito sobre a angústia, retrata que a prematuração humana estabelece marcas no psiquismo que para ele, é irrecuperável. Em outro escrito Lacan (1962-1963/2005) avulta a ideia citada acima por Winnicott (1949/2000) em virtude do primeiro momento da angústia, porém, da um passo adiante e propõe o momento ao qual refere ser mais decisivo na angústia “de que se trata, a angústia do desmame, não é propriamente que, nesse momento, o seio faça falta à necessidade do sujeito, mas, antes, que a criança pequena cede o seio a que está apensa como se fosse uma parte dela mesma. (LACAN, 1962-1963/2005, p. 340).
A mãe, como já foi mencionado, é fonte de prazer, é aquela que supri as necessidades primevas do bebê, e ao mesmo tempo aquela que o abandona. (ROCHA, 2012). Diante desta afirmação e acrescentando a angústia vivida pelo bebê nesse momento como sinal do desamparo, Lacan (1962-1963/2005) diz:

É na possibilidade de agarrar ou soltar esse seio que se produz o momento de surpresa mais primitivo, às vezes apreensível na expressão do recém-nascido, na qual passa pela primeira vez o reflexo – relacionado com esse órgão que é muito mais que um objeto, que é o próprio sujeito – de algo que serve de suporte, de raiz para o que, num outro registro, foi chamado de desamparo. (p. 340).

Levando-se em consideração que o bebê se encontra nesse momento, ao que Spitz (2004) chamou de estágio Não-objetal, onde, o bebê não consegue distinguir uma coisa de outra, não distingue o externo de seu próprio corpo, e não vivencia esse externo como sendo separado dele. Este percebe o seio materno, forma de suprir suas necessidades, como sendo parte de si.
Apesar da ideia citada acima, de Spitz (2004), estar ligada a contemporaneidade, ou seja, ser atual, teóricos mais primitivos, como Melanie Klein (1937), já havia exposto essa ideia em sua profundidade.
Melanie Klein (1937/1996) traz essa questão de perceber o seio materno como fonte de satisfação, também quando trata da ambivalência afetiva 1, amor e ódio pelo mesmo objeto. Neste contexto, Melanie Klein, ainda em 1937, salienta que a mãe, sendo o primeiro objeto de amor e ódio do bebê, tende a satisfazer as necessidades primevas, a alimentação, “aliviando seus sentimentos de fome e lhe oferecendo o prazer sensual, que obtém quando sua boca é estimulada ao chupar o peito”. (p.347).
Melanie Klein (1937/1996) ressalta que essa situação de alimentação por meio do seio, é essencial a sexualidade da criança, portanto, é sua expressão inicial. Contudo, remete ao bebê, uma sensação temporária de segurança. “Isso se aplica tanto ao bebê quanto ao adulto, tanto às formas simples de amor quanto às suas manifestações mais elaboradas”. (p.348).
Muitos teóricos como, Melanie Klein 2 1882-1960, Donald Woods Winnicott 3 1896-1971, Jacques Lacan 1901-198, entre outros mais contemporâneos, retratam a questão do nascimento. Alguns dispondo de criticas aos pensamentos freudianos, outros seguindo a risca os seus escritos, provavelmente seja por isso que existam tantas coincidências entre uma e outra, ainda que haja também divergências 4.
Outra questão referente ao período pós-natal, retomada por Melanie Klein (1952/1991), baseada no escrito de Freud Inibições, sintomas e angústia (original de 1926), avulta o conceito de ansiedade advinda de fontes externas 5 do bebê. Melanie Klein (1952/1991) relata que “a primeira fonte externa de ansiedade pode ser encontrada na experiência do nascimento”. (p. 86). Essa experiência passa a ser um padrão para todas as posteriores, uma vez que, a condição do nascimento, em toda sua complexidade, “está fadada a influenciar as primeiras relações do bebê com o mundo externo”. (MELANIE KLEIN, 1952/1991, p. 86).
Para Rocha (2012), com todo o processo do nascimento, das invasões pulsionais e sensoriais, assim como a representação da violência do objeto externo denominado mãe, com um plano mais fundamental, situam-se a experiência de desamparo, assim como outras vivências decorrentes desta. É também a primeira vivência que o bebê experimente de dor e agonia.
Vislumbra-se nesse cenário inicial, onde “esse estado é vivido em um espaço que se situa entre a tendência a uma descarga imediata das tensões e tentativa de contê-las”. (ROCHA, 2012, p. 24). Advém de movimentos antagônicos, que se origina o psiquismo, posteriormente, “inaugura um terreno de origem sobre o qual se assentarão as primeiras experiências do ser humano”. (ROCHA, 2012, p. 24).
A experiência de revivencia, ou repetição de situações primevas, oriundas às marcas no psiquismo 6, traz à discussão de vários teóricos e seus seguidores, como exposto aqui resumidamente em Winnicott (1949/2000), Melanie Klein (1937), e Rocha (2012).
Winnicott (1956/2000) no texto “A Preocupação Materna Primária”, salienta a importância da mãe na etapa do desenvolvimento do bebê. É interessante observar os dois tipos de ambientes descritos por este autor, o ambiente não suficiente bom, que distorce o desenvolvimento do bebê, e o ambiente suficientemente bom, que possibilita ao bebê alcançar o seu desenvolvimento saudável.
Rocha (2012), também relata a importância da mãe na constituição psíquica do bebê, assim como as vicissitudes de um cenário vivo, ou seja, as mudanças que ocorrem ao longo do desenvolvimento psíquico.

O universo primário da constituição psíquica é, antes de tudo, um universo em movimento: o mundo interno do bebê, a força pulsional que o habita, suas respostas em atos, as sensações que a mãe experimenta, sua consequente ação, tudo isso vai configurar um cenário vivo. Mais do que oferecer o objeto de uma necessidade, a mãe oferece a possibilidade de compaixão e de condução dos movimentos do bebê, fazendo desse campo original um espaço rude habitado pela dor e desespero, um campo delimitado em cujo tecido brotarão as mais ricas experiência, desde que o bebê encontre um reflexo, cuja origem está no corpo da mãe. Processo que desemboca na identificação, marcando o lugar privilegiado que a mãe vai ocupar nesse espaço original, o qual servirá como a alavanca da experiência narcísica e, portanto, da configuração de todo o plano da idealidade. (p. 36).

A mãe é quem vai direcionar o bebê para o mundo, é com os olhos dela que ele enxergará até certo ponto de sua vida. Winnicott (1945/2000) no texto “Desenvolvimento Emocional Primitivo”, coloca que o bebê, na sua vida primeva, antes que ele se reconheça e reconheça o outro como corpo inteiro, é por meio do olhar da mãe, ou seja, o que os outros são que este se constituirá.
Para Rocha (2012), a mãe opera junto à sensibilidade, para que o espaço psíquico do bebê possa, sobretudo, encontrar um possível espaço de representações. Isso se dá devido à comunicação primitiva entre mãe e filho.
Partindo da ideia do desamparo originário, Rocha ilustra que:

“(...) a pré-maturação humana perante a vida que nos adverte que é a partir do trauma primário – a separação do corpo materno e a insuficiência própria para a sobrevivência – que o recém-nascido irá agir” (2012, p. 37, grifos meus).

Baseado na ideia descrita acima se pode compreender que, apesar do desamparo ser um tema pouco explorado, é de extrema importância para a compreensão do psiquismo. Por meio do desamparo, como já foi comentado, abre-se as portas para o desenvolvimento.
Muitas vezes o que acontece, já na vida adulta, é a repetição da experiência do nascimento, o indivíduo não revive a situação, e sim vive a experiência do desamparo e, não sabe nem o por que de tal sensação?
O objetivo aqui foi trazer um pouco a experiência do nascimento e a primeira relação com o objeto externo, para que possa ter uma base do conceito do desamparo originário.
Conclui-se ao que venha ser a experiência do nascimento, que muitos teóricos aqui citados a vê como um momento crucial para a decorrência angustiante, traumática e a vivencia do estado de desamparo se deparado a condição de dependência do infante devido à impossibilidade psicomotora de suprir suas próprias necessidades. No entanto, essa situação de dependência direcionará esse pequeno ser direto para a relação com o outro, o que abrirá caminho para o desenvolvimento psíquico.




1 Tema mais explorado por Melanie Klein e Joan Riviere em Amor, Odio e Reparação: as emoções básicas do homem do ponto de vista psicanalítico. Do original em inglês: Love, hate and reparation. Traduzido da 4.a edição publicada em 1967 por The Hogarth Press e The Institute of Psycho-Analysis, Londres, Inglaterra.
2 No livro Amor, Culpa e Reparação e Outros Trabalhos 1921-1945, Melanie Klein dispõe de um escrito cujo nome é Amor, Culpa e Reparação, de 1937, que, além de outras questões advindas das defesas arcaicas do ser humano e sua ambivalência afetiva, trata a questão da situação emocional do bebê diante às suas necessidades primitivas, a fome. Tratando da importância do desenvolvimento psíquico diante a questões tão primitivas, porém, fixadas por toda existência da pessoa.
3 Em Da Pediatria à Psicanálise 1931-1956, Donald Woods Winnicott também retrata questões relacionadas ao nascimento como: Memórias do Nascimento, Trauma do Nascimento e Ansiedade 1949. traz a Experiência do Nascimento, assim como os impasses para o desenvolvimento.
4 René A. Spitz (1887-1974) se inclina a concordar com a problemática do trauma do nascimento em relação à primeira manifestação da ansiedade imposta a repetições dadas como destino a cada homem. Em virtude a esta discordância, Spitz realizou diversas observações diretas para obter registros dos comportamentos do bebê em seu nascimento. Registrou, em seus mínimos detalhes, 35 partos realizados sem anestésicos ou sedativos. Em 29 destes partos, o comportamento do bebê foi filmado durante o período de expulsão, ou segundos após o parto. A filmagem continuou durante duas semanas seguintes, incluindo os comportamentos durante as mamadas e reações a estímulos. Diante destes registros, Spitz mostra que a reação do recém-nascido, na maioria dos casos, em que ele chamou de normal, dificilmente pode ser considerada traumático.  O mesmo revela que a reação é rápida, pouco violenta e passageira. Retrata que as reações e dificuldades da criança em respirar depois do parto expressa aspectos negativos, porém, breves. Para tal, baseou-se em seu experimento exposto no livro “O primeiro ano de vida”, tendo a 3 edição publicada em 2004, onde se dirigiu para o escrito “Primeiros protótipos de reações afetivas” para tais conclusões.
5 Neste escrito, Melanie Klein também trabalha as fontes internas de ansiedades decorrentes a vida pós-natal do bebê. Fonte a qual pertence a assuntos de tamanha complexidade e importância, que não se conseguiria abordar por completo neste momento.
6 Uma Nota Sobre o ‘Bloco Mágico’, texto escrito por Freud em 1924, porém publicado um ano depois. Trata-se de uma analogia que ele faz de um brinquedo, o bloco mágico, ao psiquismo, necessariamente a suas marcas decorrentes as formações primitivas. Segundo Freud, neste escrito, Bloco mágico constitui-se por uma prancha de cera, coberto por uma folha, um papel celulose e encerado. O bloco é utilizável repetidas vezes como uma lousa, porém, é composta por traços permanentes, os primeiros traços escrito na folha de cobertura, “cujas depressões nela feitas constituem a escrita”. Essa analogia serve para retratar que tudo o que se faz é um revestimento de um traço mnêmico já estabelecido muito antes, portanto, Freud dá o exemplo do Bloco Mágico. Edição standard das obras completas de Sigmund Freud. v. 19.